sexta-feira, 16 de abril de 2010

Divagando- Camille Claudel


Esta semana terminei de ler o catálogo da exposição de Camille Claudel – A sombra de Rodin, de curadoria de Romaric Sulger, quem eu tive o prazer de conhecer.

Antes de começar a falar de Camille, hoje eu me dei conta que as mulheres que mais admiro, quer seja na arte ou na literatura, tiveram uma vida trágica. Lembrei-me de Frida Kahlo, Flor Bela Espanca, Virgínia Woolf e Karen Blixen. Espero que não me lembre de mais nenhuma, senão vou achar que tenho um prazer pela tragédia. Não, gente, não é isso. O que mais destaco nestas mulheres são o alto valor estético e literário e a coragem ousada de romper com os padrões da época. Mesmo não tendo admiração pelo sofrimento não tem como não falar do mesmo para entender as obras de cada uma.

Nas primeiras linhas do texto do catálogo que li, Romaric escreve: “Uma vida longa com um espaço de tempo dedicado à criação tristemente curto, apesar de muito rico. Essa pode ser uma síntese da biografia da escultora Camille Claudel”. Nestas palavras ele falou tudo, mas... eu falarei um pouco mais desta autêntica escultora.

Não podemos falar de Camille sem a citação exaustiva do nome Rodin. Ela foi a única mulher a trabalhar com o escultor, destacando-se entre todos os seus ajudantes, além de o impressionar com sua beleza, habilidade técnica e entendimento da arte. Isto tudo atraiu Rodin. Ela era exímia no trabalho com mármore, e sua capacidade para esculpir pés e mãos garantia-lhe a confiança de Rodin. Tanta admiração e uma intimidade crescente resultaram em num relacionamento amoroso,conturbado e marginal já que ela convivia na condição de amante. Esta união durou quinze anos, entre momentos de paixão, brigas, um aborto e todo ciúme de Camille contra a esposa de Rodin. Como conseqüência sua reputação e moral, diante da família, dos artistas e dos intelectuais foram abaladas, iniciando um processo de isolamento, o que a fez perder, gradativamente, sua segurança emocional.

A discípula aprendeu muito com o mestre durante todo o tempo que trabalhou com Rodin. Houve uma fusão inextricável de participações de Camille na obra dele. As obras de um se confundem com a do outro. Porém, ela desenvolveu um estilo próprio e deu uma nova dimensão às obras de Rodin. Um ponto que eles discordavam de forma prática e teórica é que ela dava muita importância ao “movimento” na construção da escultura e Rodin privilegiava o “modelado”. Percebemos na maioria das esculturas dela braços longos demais, pernas além do normal e corpos desproporcionais, dando a ilusão de movimento, como vemos nesta escultura abaixo. (A valsa)

Camille decide se distanciar de Rodin porque ele não deixa sua esposa e porque ela passa a procurar uma autonomia para sua obra, já que passa a surgir rumores que suas obras seriam executadas por seu mestre.

Esse distanciamento culmina no rompimento definitivo. Camille se fechou num universo pessoal o que viria a dilacerá-la. Muito ferida, ela passa a sentir por Rodin um ódio misturado com amor cultivando então uma paranóia.

Como não se pode garantir, na arte, uma obra imune às influências da vida de seu criador, percebemos que nas suas esculturas seus personagens não encaram o espectador e nem seu par. Seus casais não se olham, são cegos para o outro, fechados numa dor que procura a solidão. O que une esses casais, como na vida da própria Camille, é o segredo de amante é a culpa que não permitem que seus rostos sejam flagrados ao olhar-se, pois não resistiram, como a própria Camille, à verdade ou mentira do outro. (Abandom)


Apoiada por críticos de arte ela faz duas grandes exposições que foram um sucesso, mas que não a faz esquecer o ódio por Rodin. Os períodos paranóicos multiplicam-se. É internada em um hospital psiquiátrico, e em momentos de delírios ela acha que Rodin está roubando suas escultura para expô-las como suas. Viveu trinta anos internada. Durante este período recebeu poucas visitas do irmão, de quem ela tanto gostava, nenhuma da mãe e da irmã, e sua única janela para o mundo foi a farta correspondência que manteve com amigos, sempre suplicando para voltar à vida. (A suplicante)

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