domingo, 30 de maio de 2010

DIVAGANDO -Qual a música que te define?.


Começo o post , de hoje, com um trecho do livro "O chão que ela pisa" de Salmam Rushdie.

“Por que a gente gosta de cantores? Onde se esconde o poder das canções? Talvez se origine da mera estranheza de se existir canto no mundo. A nota, a escala, o acorde; melodias, harmonias, arranjos, sinfonias, ragas, óperas chinesas, jazz, blues: o fato de essas coisas existirem, de termos descoberto os intervalos mágicos e as distâncias que produzem o pobre punhado de notas, todas ao alcance da mão humana, com as quais construímos nossas catedrais sonoras, é um mistério tão alquímico quanto a matemática, ou o vinho, ou o amor(...)A música nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, ela nos mostra como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo”.

Com este trecho eu fico pensando: "Quais os anseios de quem ouve o reboleichon? ( não sei como se escreve isso e também não vou me dar o trabalho de procurar). Deixo para refletir sobre isto em um outro post.

Quero falar das minhas lembranças musicais. Por quê?

Ontem, eu tive que procurar umas pastas da época da faculdade, no porão, e me deparei com os vários vinis que estão lá guardados ( um eufemismo, para não dizer trocados pelos CDs). Parei diante daqueles LPs e fiquei pensando na música como personagem na construção da minha vida.

Comecei lembrando de meu pai cantando " Boêmia, aqui me tens de regresso" se achando o verdadeiro Nelson Gonçalves. Em outros momentos, era Altemar Dutra. Uma música que lembro muito é "Sentimental eu sou. Eu sou..." Às vezes, ele chamava minha mãe para uma dança, quando os afazeres domésticos não permitia ela dançar mais, meu pai me puxava. E lá estava eu dançando uma seresta.


Minha mãe ficava cantarolando alto, lá na cozinha. Ouvíamos sair canções de Maysa " Você passa por mim e não olha,como coisa, que eu fosse ninguém, com certeza você já esqueceu(...).Lembro-me até hoje o tom. Vocês acham que Roberto Carlos faltaria? A preferida era Detalhes. Hoje, eu já pediria ela para não cantar Roberto Carlos. Não gosto. "Eu sei que vou te amar", tentando imitar Elis Regina, ela cantava naquele dia que se desentendia com meu pai. 
"Contigo aprendi que existem novas e melhores emoções ..."  de Ângela Maria. Em dias mais alegres saiam os versos de Luis Gonzaga" Ela só quer, só pensa em namorar..."



Ouvi muito Tim Maia. "Mê dê motivos, pra ir embora(...)" Adorava! Tinha Paulinho da Viola. Gilberto Gil , Gal Costa. Teve muitos outros. Estes foram os que vieram , na minha sessão nostalgia e os que mais marcaram. As capas destes LPS são as que mais lembro.



Uma outra coisa marcante, na minha infância, foram as lojas especializadas em gravação de fita cassete. Gente, não sou tão velha, tá? Não estou falando da pré-história, mas da década de 80. Era comum as pessoas gravarem fitas. Era todo um processo. Eu devia ter uns dez anos e ficava na Disco Dil ( é o nome da loja) vendo as pessoas separarem os LPs que tinham as músicas que queriam, aí elas entravam na sala de gravação, onde elas ficavam ouvindo os Lps para definirem as músicas. Ouvi muita música, talvez seja por isso que eu ouça música todos os dias.

Era romântico presentear alguém com uma fita. Significava que você pensou naquela pessoa, conhece o gosto dela, enfim, era um presentão. Lembro que foi uma emoção ganhar duas fitas do meu primeiro namorado.Só músicas românticas. Ah, lembranças!

O primeiro CD que comprei, quando ganhei meu aparelho de DVD foi "Vamo bate lata" dos Paralamas. Não parava de ouvir. Veio a minha fase pop rock. Cassia Eller, Legião Urbana, Cazuza, Ira, Titâs.

Enfim, isso acabou sendo bom para mim, fui apresentada a cantores, compositores e composições memoráveis que nortearam  meu gosto musical. 

A minha vida como a sua tem cada uma a trilha sonora que a defina. Qual música te define?



4 comentários:

  1. Das fitas K7 à internet, curtos e belos caminhos!!! O Disco Dil e essa capa dos Paralamas trazem lembranças incríveis de uma realidade tão recente e tão distante, mas incrivelmente frutífera. Tempos de boa música, de verdadeiros artistas que gostavam e sabiam fazer letra e melodia unindo pessoas que sabiam apreciá-los.
    Saudades.

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  2. Minha amiga, fico feliz em saber que minhas palavras mexeram nas suas lembranças. Tivemos a sorte de viver bons tempos, em Itaberaba.

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  3. Lendo esse texto, viajei no mesmo tempo.... Também não sou tão velho, mas posso dizer de certeza que a minha idetidade, meu humor, compreensão, se formaram em trilhas sonoras assim, marcantes e belas...
    Falar de musica para mim, é falar de mim mesmo, afinal penso e vivo musica 24 horas, há pelo menos 10 anos, mas muito antes de assumir a musica como profissão... ela já havia me escolhido, ou elas....
    Em cada momento uma sonoridade diferente, às vezes serenas, tranquilas, às vezes loucas, nos meus tempos de rebeldia, entre idas e vindas, de Petrolina a Itaparica, (Acapamento da Chesf em Pernambuco) onde morava meu pai... e acompanhado meu irmão nas cantorias que ele fazia.
    Enfim, sou feliz pela oportunidade de ter sido abastecido a minha vida inteira com musicas que sempre me ensinaram algo, ou me marcaram pela qualidade dos arranjoa, das letras e dos musicos que a executavam...
    Ainda temos um dos maiores celeiros de musicos bons em todo mundo... contudo a nossa musicalidade, ou melhor essa musicalidade dos meios de manipulação das massa, as industrias "culturais" não merece comentários...
    Fico aqui cutucado pelo seu texto, fuçando meus arquivos de vinil pra ouvir em bom volume... Musicas que marcaram minha infancia e que me acompanharão por muito tempo...

    "Saudade palavar triste, quando se perde um grande amor, na estrada longa da vida ou vou chorando a minha dor....

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  4. Maviael,~cantador e poeta, que prazer ter você por aqui.
    Obrigada pelas palavras.
    Beijos

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